quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Neo-romantismo

Está num dos livros de história, ficção, máximas etc. mais famosos do ocidente que “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; de modo que nada há de novo debaixo do sol”. E desde que os românticos vieram com a ideia de originalidade, o nada se faz de novo debaixo do sol dói (por isso nós românticos sofremos tanto).
Nós vivemos num “novo” romantismo, num “novo” fim-de-século (e o que se fez, isso se tornará a fazer...). O Romantismo prezava e muito a ideia de originalidade, pois então é um enorme contra-senso estarmos aqui revivendo a mesma ideia antiga, séculos depois. É ridículo. Acho que nada tão claro caiu sobre nós, atualmente, como a percepção do quanto somos ridículos. E o pior é que isso não é novidade, os românticos também tinham essa mesma humildade. Mas em nós isso é triplicado, afinal somos ridículos e um ridículo cópia de um outro ridículo séculos lá atrás. Somos a cópia de um ridículo, ou seja, um ridículo ainda mais ridículo.
Talvez essa seja a diferença que move nossa arte. Se havia niilismo e pessimismo antes, agora temos niilismo, pessimismo e chuta-o-pau-da-barraca. Somos tão, tão ridículos que qualquer animal vale mais do que a gente (daí o ambientalismo...). E nós somos tão irônicos e sarcásticos e nos ridicularizamos tanto (conscientes do nosso ridículo) que nada melhor explica nosso pensamento neo-romantista tão bem quanto uma frase de Simpsons (pois é, que ridículo!) em que dois adolescentes num show depressivo, um fala algo irônico, o outro pergunta: isso foi sarcasmo?, o primeiro pensa um pouco e respondo: ah... eu não sei! É o niilismo redobrado. O ceticismo, o relativismo mais-do-que-exacerbado. Tanto faz tanto, que mesmo o que eu disse pode ser, pode não ser e mesmo o que eu estou dizendo agora se inclui nisso. Talvez seja melhor não dizer nada, apenas murmurar!
Aí surgem os aterrorizados: os absolutistas. Esses são os que temem essa falta de onde se segurar nesse mar louco de falta de sentido. Mas não são a maioria – se são, não contam, porque o que fazem, fazem por medo, sua convicção é seu salva-vidas. Ou ainda o fazem por desejo de originalidade (que não se confirma porque absolutismo é mais antigo ainda) e o desejo de originalidade nada mais é do que um desejo romântico.
Ainda existem os engajados. Estes são os únicos que fazem, atualmente, algo realmente original. Os que procuram a verdade, os que procuram a explicação, os que estão atrás da ciência e de tudo que é pragmático. Falo dos que inventaram o celular pra depois inventar MP50. Isso sim é novo, realmente novo. Os que estão na física, na medicina, na matemática, na lingüística, na filosofia estudando as novas possibilidades. Deles pode vir algo novo (no velho Romantismo as ciências naturais e a pesquisa também evoluíram muito...).
Mas nosso ambiente intelectual, o que pensamos da gente, da vida, do mundo... isso está de volta à estaca -1. O que pintar, o que escrever, enfim, o que expressar de um mundo que já foi exprimido? Ainda por cima, como ser original dentro disso?
Pode ser um preconceito, ou um mal-gosto, mas é só inventar a forma dos microcontos? Os imbecis microcontos... um sorrisinho é tudo o que conseguem suscitar. São interessantes, refletem nossa atualidade exemplarmente (esse nosso neo-romantismo)... são ridículos, rápidos, pílulas comprimidas porque não se tem mais o que falar, nós não temos mais o que dizer; nós esperamos sempre do outro que consiga completar... Porque já foi dito, já foi pensado! Basta completar. Ah! Eu não vou escrever muito, basta uma frase, você, leitor, me dirá...
E o: você, leitor, não tem mais tempo pra isso, somos da era tecnológica, estamos correndo pra lá e pra cá eu já acho uma bobagem pensar assim! O tempo voa, mas ainda há tempo de sobra pra sentar, escrever, pra ler... Sim, ainda existe o ócio.
A gente se ocupa, se ocupa bastante. Mas também! Se eu me desocupar e prestar atenção caio num desespero. Nosso mundo é sem sentido e pra nos salvar não temos nem o amor transcendental romantista. Ah, a redenção do amor transcendental que era o bote salva-vidas romântico a gente não herdou. Tudo é sexo e Freud explica. Então quer tempo mais sacana e deprimente?
Acho que por menos atual que seja, ainda é um exemplo. A literatura de um Bukowski e de um Rubem Fonseca... é um: mas que se foda! É o ridículo exposto. É nosso tempo. Eles ainda se dão ao luxo de afirmar algo, mesmo que seja “de qualquer jeito”, sem pretender chegar a lugar algum – porque chegar a algum lugar não combina com nosso relativismo exacerbado. Bom, melhor que o microconto que por medo de afirmar qualquer coisa desiste antes de começar.
Nesse sentido, é engraçado aquele vídeo de humor português sobre os artistas que não chegam a lugar algum. De fato, é um sintoma de nosso tempo: não temos lugar algum pra chegar.

PS: Depois de escrever, eu procurei no google sobre neo-romantismo (eu não cheguei a ver na faculdade e nem sabia que já tava categorizado desde 70, que coisa linda!), indico a leitura: Neo-romantismo Parte I e também da parte II . São bem divertidos de ler!

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