quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Inércia e a falta de um sentido

Quarta-feira passada eu tinha uma consulta com psicólogo marcada e acabei faltando porque não consegui achar o consultório. A frustração foi grande, como da primeira vez que eu fui no psiquiatra e perdi o endereço em casa, chorei, fiquei nervosa. Afinal são mais de 10 anos de depressão insuportável e eu já não vejo mais a hora de me livrar disso – se é que um dia, viva, eu irei me livrar.
Eu já tinha listado em pensamento os principais motivos que me levam a ir me consultar e ia buscar uma resposta – e queria muito saber a resposta! – mesmo sabendo que psicólogos nos ajudam apenas a nós mesmo nos ajudar, não importa onde eu achasse uma resposta, eu queria uma resposta.
Eu tenho apenas dois motivos que me levam ao psicólogo. Parece pouco, mas você verá que não é, são fundamentais pra vida de qualquer um.
1 – Inércia. Eu já escrevi aqui ou algures (ai, que chique) sobre isso, e eu sei que faz muito, muito tempo. É da época que eu fazia cursinho pra faculdade ainda! Hoje já estou formada... e o problema se mantém intacto.
O problema da inércia é tal qual Newton o físico descreveu: um corpo parado permanece parado, se não houver uma força atuando. Mas, se houver uma força atuando, o corpo se move, sob uma aceleração constante,,, mas só se não houver uma força de atrito (o que fará o corpo perder aceleração até parar novamente). Bom, o que isso tem a ver comigo? Você pode imaginar. Sou do tipo que não tem praticamente força nenhuma interna atuando. O que existem são forças externas (me mexo por causa de uma obrigação inadiável, geralmente). Se estou parada, continuo parada até que por motivo de força maior eu acabe me movendo. Se há uma obrigação, no caso, um emprego, por exemplo, então eu me movo. E quanto maior a força, mais me movimento e continuo a me mover, porém a força de atrito acaba me forçando a parar cedo ou tarde.
Exemplificando? Bom, agora estou desempregada e, como sempre, eu vou ficando cada vez mais e mais preguiçosa e acomodada nessa situação. De repente durmo 16h por dia, tenho preguiça de tomar banho, de buscar água na geladeira, fazer um telefonema, enfim, tenho preguiça pra qualquer coisa! Mas, digamos, se eu acho um emprego. No início a força da empolgação me move e com isso eu fico atuante, chego em casa e até procuro coisas pra fazer e mantenho nessa movimentação a não ser... bom, a não ser quando a empolgação inicial da força vai acabando. Aí é terrível porque, embora não pareça, sou EXTREMAMENTE responsável e ver que estou procrastinando, ou seja, deixando de fazer um dever ou faltando com alguma obrigação, isso me deixa sentindo uma culpa terrível que me faz quase sempre procurar o suicídio e tem como resultado alguma doença física, geralmente meu estômago fica ruim, meu rim, e de repente eu falto, no dia seguinte vou chorando pro trabalho, até que a força se esvai e eu me extenuo por completo.
Dentro disso, me parece que eu vivo apenas por inércia mesmo. Seja no movimento, seja na estagnação. Hoje segurei pra não chorar enquanto minha ex-boadrasta contava pormenores de como conheceu uma vizinha e de que ia lá jogar baralho... Pronto. De repente uma bola na garganta se formou e eu fiquei pensando: eu não faria isso. Eu jamais teria força de, de repente, ir na vizinha jogar baralho. Parece simples e bobo, e por isso mesmo é terrível: eu não tenho força pra coisas ridículas e bobas como esta. Enquanto ela falava de ir viajar pra Pirenópolis, eu pensava: mas se eu for sábado eu terei que lavar o cabelo amanhã, "será que eu consigo lavar o cabelo amanhã?". Não porque eu não tenha tempo, mas porque eu não tenho força.
Claro, se tem que ir no médico e isso é inadiável eu vou. Se é uma viagem e o Eros vai comigo e isso pode ajudar eu vou. O problema geralmente são coisas bobas, que ninguém vai me cobrar além de mim mesma, quase sempre insignificantes. Ou nem tanto assim. Tenho o fim de um livro que eu gostaria de publicar em dois pedaços de guardanapo e até agora eu não arranjei forças pra escrever (e estou escrevendo isso, talvez muito maior). Só de pensar em como farei pra publicar... E todo o resto.
Aí o que mais me desanima é saber que quando conto isso as pessoas geralmente tendem a dizer: "sai de casa", "toma um fôlego e levanta", sem saber que esse é justamente o problema e que não adianta! Muitas vezes eu faço um dia, no outro dia eu já não consigo. Às vezes, uma vez num mês a cada solstício, eu sinto uma força do além que me faz limpar toda a casa, fazer vários serviços e então por esse dia eu acho que estou curada e que tudo se resolveu, que só bastou levantar e fazer, mas no dia seguinte, lá estou eu prostrada de novo, mesmo que eu tente segurar o sorriso por 20 segundos como li que ajudava, mesmo que eu pense: hoje não irei me cobrar pra ver como me saio. Mesmo que eu tente de tudo. Gente, já são 10 anos ou mais assim, não é algo que passe por pura boa vontade porque, sinceramente, vontade de sair disso é o que não me falta.
O que eu acho mesmo é que no fundo eu sinto a necessidade de alguém pedir pra mim que eu faça. Ou nem isso, que isso também me angustia. Me falta mesmo é desejo, é querer. Eu não faço as coisas porque quero, mas porque devo, não sinto desejo de nada, mesmo do que gosto, é difícil manter um desejo aceso.

2 – Sentido. Um sentido pra vida. Sou ateia e até tenho pensado em virar espírita, alguma coisa assim. Achar que tem um sentido viver, que tem algum sentido ao menos místico, porque racional, realmente, cansei de buscar e não acho.
Todo mundo que eu conheço, por mais alegre que aparentemente seja, sempre diz que era melhor não estar vivo, que a existência é realmente uma sina ruim e dificilmente encontrei alguém que nunca tenha querido morrer. Ou que ache terrível ter filhos pelo mesmo motivo. Se existe alguém que não se encaixe nessa descrição, são raras exceções.
Quando penso nisso, penso que viver é uma simples acomodação. Viver pra que? Por hedonismo? Por algum prazer qualquer que seja? Por que irei dar aula se melhor seria que meus alunos nem tivessem nascido?
Não faz sentido.

6 comentários:

Queen of Madness disse...

Marce, pior do que viver assim é viver por vontade dos outros, porque os OUTROS quererm, porque os OUTROS precisam que vc viva, porque eles simplesmente te forçam a viver assim, vazio, sem motivo, apenas pela comodidade deles...

Nem tenho o que te dizer, porque eu tambem sinto isso, muitas vezes, as vezes por anos, mas no meu caso, as vezes vai embora, as vezes volta...

Pensa pelo lado bom, vc não está quase careca igual a mim...

rrrsss...

Calma, a vida é uma merda sempre, mas as vezes, beeem as vezes, nem parece tão merda assim...

Djuli- Thats what she said disse...

Um dia desses eu tive essa crise. Pensei que nao tem sentido algum trabalhar, ganhar dinheiro, estudar, fazer amigos, essas coisas basicas considerando que uma hora eu vou morrer e tudo vai acabar.

Acho que gostaria de saber quando isso seria. Ao menos eu poderia me planejar!hahaha

Aproveita que voce é responsavel e cumpre com as tarefas, se cobre mais! Faço cursinho a tarde de proposito. E nem quero fazer concurso! Assisto as aulas pra nao ficar em casa dormindo e mostrar pra mim mesma o minimo de interesse.

Criei um objetivo qualquer, nem que seja cismar com o proprio tom de azul do cabelo! d:-D

Patricia Cunha disse...

Vivo na inércia e falta de sentido todos os meus dias.

na verdade não encontro um motivo real para tudo isso que "luto", TUDO "ISSO" que busco e estou justamente nesta fase que vc citou no texto, fazendo cursinho para ingressar na universidade.

Mas, mesmo com minhas dúvidas não me deixo abalar e o negócio é "viver" cadaa momento com pessoas especiais de forma intensa

estou te seguindo *-* me segue também? estou começando meu blog agora.

wiLL disse...

Cara blueberry. Vc não me conhece. Por esse motivo, talvez eu devesse ter lido tudo isso, fechado a página e ido embora, mas não consegui. O que vou escrever agora pode não servir de nada para vc, mas vou dizer simplesmente pq quero dizer, e também, porque acredito que não existem coincidências.
Tudo o que vc relatou se resume perfeitamente ao seu texto, porem, eu mudaria a nomenclatura (que, por sinal, vc demosntrou concordar): Seus problemas são falta de vontade e de sentido.
"Tah, e dai?" me pergunta vc. E dai que todo mundo passa por isso, em maior ou menor grau. Eu mesmo tenho um sério problema com a preguiça, e já estive no mesmo buraco que vc. A primeira coisa que se deve fazer quando se tem um problema, eh admitir que se tem um. Isso vc ja´fez. A segunda coisa, mais dificl, eh admitir que se precisa de ajuda, ou seja, desabafar com alguem, e ai, entram os amigos e o blog.
Entenda que, quando temos um problema precisamos ver nossa real necessidade de acabar com ele, caso contrário, nada vai dar certo.
Por isso, aqui vão algumas dicas de minha parte que, espero, possam ser úteis para vc.
1) Faça um diário. Eh, eu sei, parece bobo e sem sentido, mas pare e analise. Num diário vc escreve tudo que aconteceu no seu dia, de bom e de ruim, e isso vai permitir que vc repare nas consequencias dos seus atos e fazê-la pensar se é isso mesmo que alguns chama de "ser feliz". A culpa nos cega para nossos problemas, minha cara. Ela impede que reparemos em nossas atitudes para nos concetrarmos só nela, vc deve ter cuidado com isso (NÃO É SUA CULPA). Quando fizer uma semana de diário, pegue um dia do seu final de semana e faça um balanço do que aconteceu, mas, e isso é importante, faça uma análise impessoal. Esqueça que é vc que está com problemas e analise os fatos sem julgá-los bons ou ruins, somente suas consequencias. faça isso por quatro semanas, e quando completar um mês, faça um balanço geral, para ver o que pode ser mudado. Ver as consequencias de seus atos pode te trazer a vontade fulminante de mudar, sem médicos, psicólogos, psiquiatras.
2)Sentido: Isso eh uma questão bem diferente. Muitas pessoas pergundam se eu acrendito em deus, mas li num lugar algo que é certo. Não importa se acredita ou não, deus é, simplesmente. deus não existe ou deixa de existir, mas é, sempre foi e sempre será. Vc mesma sabe disso, mas parece crer que deus é alguem que dirige o bem e o mal da humanidade. Não é assim. Nós, seres humanos, dirigimos nossa própria vida, e se temos problemas, a culpa é nossa e não de deus. Se alguem lhe disse que era melhor morrer do que viver, passe um recado para essa pessoa por mim "vc eh fraca, pois quer optar pelo caminho mais curto". Quando nascemos ninguem nos tira da barriga e diz "bem vindo, a vida lhe será muito fácil". NÃO!!! A vida é dificil sim e temos que lutar por cada segundo de felicidade, se é mesmo isso que queremos. E, diga-se de passagem, felicidade nada tem a ver com prazer. Posso sentir prazer em fumar um cigarro, mas fumar não me traz felicidade.

Portanto, minha cara amiga, se quer ser mesmo feliz e deixar essa vida de amarguras terá que arrancar essa felicidade com suas próprias mãos, nem que pra isso tenha que dar seu sangue! Isso não eh uma maldição sua, pois estamos todos no mesmo barco.

Se vc quer mesmo alquem te combrando, agora eu, legitimo ser humano com cérebro e polegar opositor, exijo que vc saia dai. Não admito que minha irmã de planeta se sinta triste. Vc não só pode, como deve, tem o direito de ser feliz. A diferença é que vc ter conseguir isso por seu próprio mérito. Se precisar de ajuda, posso te ajudar, mesmo que seja a distância. Me coloco aos seus serviços para o que precisar, mesmo que seja só para desabafar, mas saiba, nem eu nem ninguem pode ditar sua vida. No final, a principal escolha será SEMPRE SUA!!!

Recomendo três filmes:
-V de vingança
-Um gênio indomável
-Em busca da felicidade
(se já viu, assista de novo com seus novos olhos de agora.)

uM GRANDE abraço,

wiLL

Oriahna disse...

Concordo com o Will na questão do Diário... Funcionou comigo...

Diogo disse...

*abraça*

queria conhecer você, poder conversar contigo, tentar te ajudar de alguma forma...

bem, não sei se você ainda sofre com essas coisas, pois esse teu post foi escrito em 2009, mas, se quiser, me manda um e-mail, vamos trocar umas idéias, trocar experiências...

meu e-mail é: bta.diogo@gmail.com

grande abraço!
:)