quarta-feira, 17 de junho de 2009

Sobre a nossa época

Antes de mais nada... longo tempo sem vir aqui. Desculpem, minha vida anda beeem mais tumultuada, to demorando pra me adequar.
Mas eis que ontem eu escrevi esta crônica pro meu blog, decidi passar ela para aqui também. Não é sobre beleza, feminilidade ou nada muito aquarelas de ser. É mais minha filosofia crônica mesmo, uma opinião sobre o mundo. Mesmo assim, blog aceita qualquer assunto, então vai ter que aceitar este também.



Não é uma novidade, mas enfim. É difícil trabalhar com educação, ver a coisa preta do jeito que está e não entrar por aquele velho fatalismo de "ah, o mundo está cada vez pior, estamos indo pro buraco, é o fim dos tempos ohmeudeusdocéu". Mas como dizia minha mãe e o próprio Umberto Eco dá exemplo n'O nome da rosa, desde o tempo da minha avó o povo já achava que seu tempo era o fim dos tempos – e, bom, acho que eles não estavam certos, por que nós estaríamos? Mas, sendo ou não o fim dos tempos, verdade é que somos bem mais críticos com nossa época atual (como se antigamente tudo fosse melhor, coisa de velho saudosista, alegria dos tradicionalistas) e por isso vemos tudo com tanto mal-estar, como se tudo estivesse piorando. Bom, uma vozinha me diz no meu cérebro, se o povo continua achando, depois de milhares de séculos, A MESMA COISA (ou seja, não aprendeu com a História) de que tudo está piorando, alguma coisa está piorando – ou a gente que não consegue sair do lugar mesmo. É, a gente não consegue sair do lugar. Em algumas coisas. Não dá pra dizer que a medicina continua no mesmo lugar, ou a tecnologia. Bah, esse post também está dizendo a mesma coisa que todos dizem, não é mesmo? Mas, calma, eu já vou falar (o que todos dizem, com outras palavras – o que também é o que todos dizem que dá pra fazer, desde a época da minha avó... meu deus, invente uma linguagem nova... ou vai vir o dia em que tudo o que eu diga seja poesia clichê).
Enfim, voltando para o que eu dizia. O fatalismo sempre esteve aí, embora antigamente as coisas fossem melhores. Sendo assim, o fatalismo está errado e as coisas antigamente NÃO ERAM MELHORES. Nem piores, diferentes (clichê, clichê...). E nem acredito nessa coisa de "instituições falidas". Todo mundo adora usar a frase pronta e praticamente unânime entre os "intelectuais" de que casamento é uma "instituição falida", por assim dizer. Dizem o mesmo das escolas. Acontece que vamos ser um pouco mineiros, librianos, monges tibetanos, sei lá, e pensemos com mais moderação: talvez para alguns essas coisas sejam instituições falidas. Ainda mais em uma época em que tudo é estilizado, cada um tem um serviço personalizado, tem gente pra quem casamento e escola não serve – ohmeudeus, medo do nosso futuro?! Ok, Marquês de Sade também era meio contra várias coisas da sociedade, era um em um milhão, desculpa. O fato é que o povo generaliza. Tem gente pra quem casamento não serve – então não casa! – e tem gente pra quem, pelo menos a educação tradicional não serve – então não estuda? Uai, vai pra uma escola personalizada. Não precisa demolir uma escola, nem proibir os casamentos, entendem?
Mas sejam casamentos, escolas, ou o que for, o problema não é uma falência de instituição. É o mal do nosso século. A gente reviu vários conceitos, jogou-os fora e... esqueceu de substituir por novos! (E é aqui que eu digo que eu vou falar o mesmo que muita gente já disse, com minhas palavras... eu sei que não é novidade, mas enfim, quer novidade vai ler notícia, não crônica de blog). Sob uma valorização do relativismo, acabamos nos tornando um pouco céticos, mas sem valores rígidos impostos pela sociedade como antes, acabamos virando, desculpem, muitas vezes mal-caráter. Gente, vocês sabem, eu sou anarquista de coração. E é justamente por isso que eu acho que os valores são as coisas mais caras a uma sociedade. Sem valores bem claros fica difícil a coisa funcionar, a gente tenta tapear com leis, impondo o medo, mas não funciona. Uma pessoa que não ultrapassa o sinal porque tem medo de levar multa, no momento que não for monitorada vai ultrapassar o sinal, ué. Uma pessoa que não ultrapassa o sinal porque entende que esse sistema serve para nos assegurar quanto a acidentes e organizar o trânsito dificilmente vai desrespeitar o sinal.
Estou dizendo isso porque acho justamente, como disse antes, que o que nos falta são os nossos novos valores. Mas valores sérios, não palavras bonitas, valores mesmo. Nada de "pode ser que sim, pode ser que não, depende...", valores bem definidos e claros: não dá pra ser assim porque isso e isso e isso.
A escola é um protótipo da nossa sociedade. (A escola defende o status quo porque é uma miniatura da sociedade ou é uma miniatura da sociedade por que defende o status quo?). O povo não obedece mais regras, a anarquia já está quase instaurada, viva \o/. O problema é que a anarquia não funciona – a não ser nos nossos sonhos mais queridos – sem valores bem definidos, como eu disse antes. E é complicada de manter quando valorizamos a diferença, como gostam de dizer (não é um valor, apesar de parecer, é só uma regra de etiqueta, reparem, na primeira oportunidade o povo estraçalha o diferente, não adianta...). Uma sociedade anárquica, pra funcionar, precisa de consenso. Consenso com diferenças é difícil. Consenso sem nenhum valor que nos motive É IMPOSSÍVEL. E não há valores muito claros, não há. O povo ainda não realizou que achar algo certo ou errado não é pecado, não é ingenuidade, é NECESSÁRIO. Assim como na nossa sociedade, a escola tenta contornar o caos com regras, leis ("se você não fizer isso não terá aquilo"), chantagens. Mas leis – e é por isso que sou anárquica, essa é minha opinião – leis não funcionam de verdade... funcionariam até melhor em outra época (oh, saudosismo! – não.). Funcionariam se ainda existisse uma reverência a autoridade quase religiosa, como havia antigamente. Funcionariam se autoridade e autoritarismo não tivessem se tornado quase sinônimos, como se tornou na nossa sociedade. Mas, chega, não adianta tentar treinar o povo por meio do behaviorismo, ensinando todos a salivarem quando toca a sineta, o povo tem que entender melhor o que é comer, o que é sentir fome de verdade. "Se você não fizer isso não te dou um playstation". Não, chega! Explique que se fulano não fizer X, provavelmente Y não será possível, simples efeito dessa causa, não precisa inventar sinônimos a curto prazo – outro problema, talvez devido ao imediatismo e a rapidez da nossa sociedade, a longo prazo é meio complicado de entender pra algumas pessoas... Não, tudo bem, eu entendo os castigos, não to dizendo pra não fazer. Mas esquecer o que é mais importante – os valores, a vida real, os porquês, essa é a falha.
Agora... como pôr valores na cabeça desse povo? Talvez com o tempo. Ou talvez o povo volte à idade média com uma dessas religiões xiitas que estão tão em voga. Só sei que eu tenho os meus valores e tento transmiti-los, milagre não faço. E, de qualquer forma, sempre haverá um problema numa época. Pode parecer terrível, mas um dia ainda darão hoje como referência de "melhor" para um futuro distante.
Estamos perdidos...

2 comentários:

Queen of Madness disse...

Ma, adoro seus textos...
Esse blog é uma miscelânia de tudo, desde fofocas até partes de nossas vidas que queremos compartilhar...
Eu sou como você e acredito piamente que ninguem muda sozinho, mas se vc tiver o devido apoio, vc vai longe, e fazendo a sua parte, vc pode deixar sementes boas disso...
Eu sou uma pessoa amarga e fatalista porque a vida nunca me mostrou algo melhor, mas mesmo assim eu ainda quero fazer a diferença pra alguem, nem que seja pra uma unica pessoa...

Eu tenho fé em vc, e acredito que vc ainda vai colher muitos frutos dessa sua determinação...

Te adoro...

^^

Amanda de Santana disse...

eu adooooro o que você escreve, Má. :)